Gente que é Minhoca da Terra

Profa. Adriana Bacellar Leite e Santos: jornalista e escritora. Trabalhou em “O Globo” e “Jornal do Brasil” e foi correspondente, nos Estados Unidos, da extinta “Revista de Comunicação”. Fez pós-graduação em Mídia Empresarial no Georgia Institute of Technology (Ga.Tech, EUA) e em Psicanálise na Universidade Federal Fluminense.

Nasceu em Macaé, em 7 de junho de 1964, dois dias antes do seu pai, o então vereador e médico, Dr. Ricardo Moacir, ter sido preso politicamente no Forte Marechal Hermes e solto em seguida.

Os alunos do 4º período de Comunicação do 1º semestre de 2004 a entrevistaram na sala de aula num papo descontraído e responsável para a Revista eletrônica "Minhoca da Terra".

 

Guilherme: Professora Adriana, como você via o momento da educação em Macaé na sua época?

Adriana: No final da década de 60, as escolas públicas eram as mais fortes. O ensino público era o ensino de qualidade e só depois foi se transformando. Exemplo são as escolas Matias Neto e Irene. Os melhores professores de Macaé estavam nas escolas públicas, Macaé ainda era uma cidade pequena.

Khristofferson: O que te levou a escolher Jornalismo?

Adriana: Quando eu era criança, os adultos perguntavam: “O que você vai ser quando crescer?”, então, como não tinha pensado ainda eu dizia médica por causa da minha família que é toda composta por médicos. Até cheguei a me inscrever para medicina, mas meu passa-tempo preferido era recortes de revistas e textos próprios escritos ao lado de cada um dos recortes. Daí a vocação pelo jornalismo.

O vestibular foi aos 16 anos e o que falou mais alto foi o Jornalismo por causa da minha escrita.

No tempo de eu fazer faculdade só existia, aqui em Macaé, a Fafima. Era, porém, voltada Pedagogia e Letras. Por isso, tive que cursar a faculdade fora de Macaé.

Rose: E em Macaé antes do Petróleo, como era a economia?

Adriana: Nessa mesma época o que predominava era a mão-de-obra na pesca e agropecuária. Na parte de Comunicação, já existia o Jornal "Debate" surgindo um pouquinho antes da Petrobras. Local muito precário, sustentado pelos empresários e deficiente em termos de editoriais e de investimento humano. Dependia de maquinários que é muito bom, mas faltava investimento no profissional. O que acontecia era contratar estagiários ou recém-formados, até o momento em que eles reivindicam um pouco mais no salário devido ao direito da experiência que os proporciona isso. Então, a partir desse momento que você quer esse contrato, o melhor é espirrar para outro local. Particularmente acho que Macaé não tem jornalismo até hoje. Espaço tem, mas ainda há que se fazer. Tem uma imprensa que se chama Chapa Branca.

Santiago: E como foi a sua correspondência com o mercado? Depois que você se formou, como foi o seu primeiro impacto, o que a chamou para estagiar ainda na faculdade?

Adriana: O estágio que fiz antes de sair da faculdade foi de 1 ano e meio na Tribuna da Imprensa. Eu recebia pouco, mas adorava entrevistar o começo da carreira de muitos artistas que eu curtia, como os Paralamas, Cássia Eller, Clara Sandrone que faziam um som legal.

Quando me formei estava desempregada em termos. Fazia "free lance" para o Tribuna. Ao mesmo tempo fiz entrevista para entrar no “O Globo”. Depois de passar por 8 etapas eliminatórias, fui eliminada na última entrevista porque eles me perguntaram a razão de eu fazer jornalismo e eu não falei que foi por paixão pela informação e nem pelo ato de informar, mas que eu adorava escrever e que eu achava que o Jornalismo poderia me levar a outra coisa. O que eles queriam eram gente focada branco no preto. Eles não queriam gente desejando outras coisas. Fiquei arrasada mas tudo bem porque eu nunca iria trabalhar como repórter de TV porque não faz o meu gênero. Logo depois abriu novamente vagas para “O Globo”. Tive outra chance. Tentei e passei nas 18 vagas que havia, concorrendo com mais de 739 candidatos. Fiquei 1 mês como estagiária e desses 18 estagiários, 2 foram efetivados e um deles fui eu e lá fiquei bastante tempo.

Santiago: Quanto tempo você está na vida acadêmica?

Adriana: Na vida acadêmica estou há 2 anos.

Marcelo: Você trabalhou em quais editorias?

Adriana: Trabalhei na editoria de cidade no “Grande Rio”, mas fiz colaborações para ele e outras editorias especificamente colunas de cultura e internacional. Gosto muito de cultura e esporte e acho que, hoje em dia, talvez eu me especializasse mais. É super legal. Proporciona viajar muito, ir a olimpíadas, a copa do mundo...

Khristofferson: E viagem? Quando é que você decidiu morar nos EUA?

Adriana: Foi quando eu fiquei desempregada pela 1º vez, porque Jornal é uma coisa difícil. Foi logo depois do Jornal do Brasil, quando fiquei desempregada em um passaralho [demissão de vários jornalistas ao mesmo tempo], fiquei chocada porque achei que eles não me tinham como uma boa repórter e eu me acho uma boa repórter e meus editores nunca reclamaram, pelo contrário eles me davam muito incentivo porque eles diziam que eu tenho uma coisa chamada “Texto pronto”. Eu ia para a rua, apurava e chegava com o texto pronto para lançar no jornal. Por conta disso, eles me exploravam bastante porque ao invés de fazer uma matéria eu fazia quatro. Era exaustivo, mas também era uma prova de competência. Eu nunca vou estimular a minha filha em ter pressa por definir-se sobre profissão. Eu entrei nessa vida muito nova. Pequei muito por ingenuidade. Hoje em dia nem tanto, mas há 20 anos atrás eu era uma “criançona” com 21 anos e com isso eu ajudava todo mundo, dava telefone do meu caderninho de telefones. Para um repórter, a coisa mais importante é a sua experiência profissional. Hoje é o e-mail. Naquela época existia um livrão com telefones de órgãos gerais, mas nunca tem de quem você quer falar e eu dividia com todo mundo.

Cícera: Você disse que decidiu ir para os EUA. Passou quanto tempo lá?

Adriana: 2 anos. Eu fui como correspondente de uma revista especializada e fazendo várias matérias para “O Globo”. Era época de escolha da próxima cidade a sediar as olimpíadas e calhou Atlanta ser escolhida, a cidade em que morei. Fui também com um visto de estudante para estudar lá.

Cícera: O que mais marcou na sua vida?

Adriana: O começo da década de 80 - as Diretas Já. Todo o histórico político que o antecedeu. A repressão era muito grande. Havia explosões em Bancas de Jornal. A Polícia reprimia com bastante violência. Esse momento político de Diretas já e Colégio eleitoral escolhendo Tancredo Neves me marcaram muito. Trabalhei na correria com bombas de efeito moral. Era apavorante.

Khristofferson: Qual sua opinião de Minhoca da Terra sobre a Macaé de hoje comparada com a Macaé que você viveu?

Adriana: Eu gosto muito daqui. É uma cidade que oferece qualidade de vida pra se morar e oportunidade de trabalho, mas não acho essa grande maravilha que os meios oficiais propagam. Ela cresce de uma forma física. Muita rua asfaltada, porém culturalmente eles são indigentes e não sei se eles é que são indigentes ou se nós somos muitos passivos, e não mostramos aos políticos que têm a faca e o queijo na mão, o que se quer e se espera de uma cidade culturalmente interessante. A cidade não oferece nada nesse sentido e fica todo mundo em casa no seu computador e essa integração fez um monte de espaço que um dia já foi cultural cair ou porque eles demoram no tempo e Macaé nesse sentido é bastante pobre e não faz jus à riqueza que o estado e o país tiram daqui. Creio que merecemos mais.

Jogo Rápido

Um jornalista: Barbosa Lima Sobrinho, pela abertura de mercado.

Um Ídolo: Não tenho. Tenho pessoas que admiro.

Um Jornal: Hoje em dia Folha de São Paulo, mas quem me inspirou foi Jornal do Brasil.

Futuro do Jornalismo: Digital.

Internet: Uma grande ferramenta para a nossa profissão, tanto o Jornalismo quanto para a Publicidade e Propaganda.

Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora: Uma boa semente dentro de Macaé.

Revista "Minhoca da Terra": Uma curiosidade pra mim.

Livro: A Paixão segundo GH de Clarice Lispector.

Música: Rock.

Adriana Bacelar: Uma sonhadora que acredita nos sonhos.

Revista Eletrônica Minhoca da Terra #2
Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
Faculdade Salesiana Maria Auxilidora - FSMA / Macaé-RJ
www.fsma.edu.br/publicidade/minhoca