Histórias que a vovó contava

Lídia Gonzalez Gonzalez
Bacharelanda em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

Resumo

Com este artigo pretendemos recordar antigas histórias e lendas de personalidades que passaram ou fizeram parte da velha Macaé e que aos poucos estão se perdendo por descaso tanto dos políticos da cidade como os próprios macaenses.

Palavras-chave: Memória, Curiosidade, Abandono.

 

Abstract

With this article we intend to recall old histories and legends of personalities that had passed or been part of the old Macaé and that to the few they are if losing for indifference in such a way of the politicians of the city as the proper macaenses.

Key Words: Memory, Curiosity, Abandon.

 

A nossa história começa em uma cidadezinha chamada Macahé. Sua história é antiga e pode ser dividida em dois momentos: Antes e depois da Petrobrás. Mas a belíssima cidadezinha têm ótimas historias para contar, belezas para mostrar, mas não tem muitos macaenses para se lembrar. Passados aproximadamente 400 anos vamos em 2004 lembrar de algumas das historias e lendas que não devíamos esquecer.

Macaé atualmente esta sendo moldada para abrigar milhares de pessoas que hoje se espremem em um transito caótico e em dezenas de empresas ligadas ao grande mercado de Offshore. Porém ao se caminhar em suas ruas ou ao se parar em um sinal de trânsito ainda pode se ver um pouco de sua história esculpida em casas ou casarões antigos que hoje abrigam lojas de varejo ou pequenas residências.

Um dado interessante é a quantidade de personalidades históricas que passaram pela cidade e com essa passagem deixaram pequenas “lendas urbanas” que tornam a história da cidade mais interessante. É através dessas personalidades que poderemos ver como a cidade cresceu, mais ainda não mudou seu pacato modo de ser.

Macaé ainda engatinhava quando uma noticia bombástica se espalhou, o Imperador Dom Pedro II viria visitá-la. O ano era 1847, um ano antes Macaé se tornaria cidade com a Lei Provincial de 15 de abril de 1846. A euforia tomou conta da cidade, uma vez que o Imperador, então com 21 anos, estava se abalando da corte e passaria pela cidade para inspecionar a construção do canal que iria ligar Quissamã, que pertencia a Macaé, a Campos.

Em 21 de março de 1847 por volta das 10h desembarcava no inicio da atual Av. Presidente Sodré, a Rua da Praia, em um cais especialmente preparado pela Câmara Municipal, o imperador Dom Pedro II. Vestia sobrecasaca e boné, e foi acompanhado por autoridades e o povo macaenses até a mais luxuosa residência de Macaé, então a de Francisco Domingues de Araújo, Visconde de Araújo, onde iria hospedar-se. Esse prédio ainda existe e quando você passar pela Rua da Praia e tiver que parar no sinal, não lamente, observe a construção que corresponde atualmente a Câmara Municipal, à parte voltada para a Av. Presidente Sodré.

O jovem imperador designou hora para receber pessoas, recebeu homenagens, fez audiências, passeios a cavalo, assistiu a solenidades, mais homenagens, acenos, fez discursos, música e foguetórios que marcaram os três dias que esteve em Macaé até seguir para Campos.

Uma curiosidade deve ser lembrada. O Visconde de Araújo era participante da comitiva encarregada de hospedar o Imperador sempre que este vinha até Macaé, justamente por ter as melhores posses da cidade. Uma delas que possivelmente serviu ao Imperador foi a Fazenda da Caturra, que mais tarde em homenagem aos Campos Elíseos de Paris, passou a ser chamada de Monte Elíseo. Atualmente a antiga hospedagem de Dom Pedro II pertence às freiras Salesianas e abriga o colégio Castelo e a Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora.

Exatamente 10 anos antes supostamente o “Fundador da República” que ajudaria a tirar do poder o Imperador poderia estar nascendo por aqui. Outra suposição surgiu na velha Macaé, teria Benjamin Constant nascido por aqui ou é mais uma das várias lendas da cidade?

Os dados oficiais sobre o nascimento de Benjamin Constant Botelho de Guimarães são que teria nascido no dia 9 de fevereiro de 1837, em Niterói, no antigo Porto do Meyer, freguezia de São Lourenço.

Porém em 15 de outubro 1849 com a morte de seu pai, Leopoldo Henrique, fica a família em situação material muito difícil. Bernardina Joaquina, sua mãe sofre grave desequilíbrio emocional, do qual nunca se recuperaria. Benjamin Constant tenta o suicídio, atirando-se às águas de um rio. Salvo por uma lavadeira escrava, passa a considerar a data de 18 de outubro como a do seu nascimento, causando uma imensa confusão.

Ocorre que em 26 de março de 1837, ou seja, aproximadamente um mês e meio após a oficial data de seu nascimento Benjamin Constant teria sido batizado “na Vila de são João de Macahé e na Freguezia do Barreto”. Como consta no livro de batismo:

 

Março 26 Benjamin

Vila 1837 – Neste dia mez e anno no Oratório que serve de Matris nesta Vila Baptisei, e pus SS Óleos ao parvolo Benjamin filho legitimo de Leopoldo Henrique Botelho de Magalhaens e de D. Bernardina Joaquina da Sª Guimaraens; Neto paterno de Leopoldo Henrique Botelho de Magalhaens, e D. Rita de Almeida e Materno Manoel J. da S. Guimaraens, e D. Maria Alexandrinha, foram padrinhos J. F. F. Mendonça e D. Rachel Maria, e para constar mandei fazer este termo em q. me assigno era et supra.

O Vigr: J. G. Tremendal” (PARADA, 1980: 38.)

 

Não havendo dúvidas de que estes são os pais de Benjamin Constant é devido a esse intervalo de tempo que começaram as confusões sobre seu nascimento na cidade.

A primeira confusão começou no trabalho de dois volumes sobre Benjamin Constant, “Esboço de uma apreciação sintética da vida e da obra do fundador da Republica Brasileira, pelo cidadão R. Teixeira Mendes, vice-diretor do Apostolado positivista do Brasil”, de março de 1892, descreve assim “Na certidão de batismo se diz que Benjamin Constant recebeu esse sacramento, com 45 dias de nascido, em 26 de março de 1837”.

Em 1904, os positivistas localizaram em Niterói, a casa onde ele teria nascido, na Rua Sant’Ana. Adquirida a casa para as comemorações oficiais, o Padre Jemeau, vigário de Macaé publica no Jornal do Brasil o termo de batismo da Igreja São João Batista, em Macaé. Curioso com a história, Augusto de Carvalho investigou e publicou no Jornal “O Século” de Macaé e “O Fluminense” de Niterói que a Rua de Sant’Ana onde nasceu Benjamin Constant era em Macaé e não em Niterói como todos pensavam. Passado os festejos da descoberta em 13 de março de 1927, o jornal macaense “O autonomista” estampa na primeira página sob o título “Benjamin Constant nasceu em Macaé”. Continha o termo e a certidão de batismo confirmada pelo então vigário da paróquia Padre Francisco Frederico Masson. Afirmando ter Benjamin Constant nascido 15 dias antes de seu batismo, sendo então macaense. Realmente, se a afirmação fosse verdadeira, pois ninguém sairia de uma cidade com um recém-nascido para outra somente para que seja batizado.

A verdade é que o Padre João Gomes de Mello Tremendal, em 1837, poderia ter esclarecido o mistério se tivesse incluído a data de nascimento no registro de batismo, mas não o fez. Mas persiste a pergunta, por que ser batizado em Macaé?

Uma das respostas é de Teixeira Mendes: “A proteção da família da Viscondesa de Macaé proporcionou então ao 1º Tenente Botelho de Magalhães a tentativa de um estabelecimento na cidade desta denominação, onde ainda entregou-se ao professorado” . (PARADA, 1980: 43.)

Apesar de parecer uma história encerrada ainda persistem perguntas como: Por que tendo nascido em Niterói foi batizado em Macaé? Por que não existem dados sobre o nascimento? Por estas razões se tornou mais uma lenda de Macaé.

 

Agora iremos tratar de um macaense ilustre, esse sem dúvidas é macaense! Washington Luiz Pereira de Souza, nasceu em 1869 num casarão recentemente demolido, ao lado do Hotel Brasília, na praça que atualmente tem o seu nome que foi inaugurada pelo próprio em 1927. Pouco valorizado em sua cidade de origem somente é lembrado por aqui pelo busto e o nome de uma praça das várias que se confundem na cidade (para não esquecer é a praça em frente ao posto de saúde!).

Washington Luiz foi para São Paulo ainda menino e deixou em Macaé diversos parentes, que aqui também fizeram carreira política, os Pereira de Souza, destacando o Coronel Cizenando Pereira de Souza, que chegou a prefeitura de Macaé.

Em São Pulo Washington Luiz foi prefeito da Capital de 1914 a 1919; Presidente do Estado – Correspondente a Governador – de 1920 a 1924; Foi Senador de 1925 a 1926, quando interrompeu o mandato para exercer a Presidência da República até 1930, quando antes do término do seu mandato, foi deposto pelo golpe de Getúlio Vargas que impediu que Julio Preste se tornasse presidente. Washington Luiz foi preso e exilado em Portugal, de onde voltaria só com Vargas fora do poder. Em 1951, Getúlio, eleito pelo voto popular, voltou a presidência da República para Governar em regime democrático, no dia seguinte a posse de Vargas, Washington Luiz, voluntariamente voltou para Portugal e de onde só retornou após o suicídio de Vargas, morrendo em 1957, isolado em São Paulo.

Seu inimigo também esteve por aqui. Há muitos anos foi construído o Cine-Teatro Taboada, um grande empreendimento, não só pelo tamanho, já que era unido com o Pálace Hotel, mas também pela magnitude de suas instalações. Houve uma grande visão dos investidores na cidade, e foi um grande desenvolvimento para a cidade. Com a memória dele ao ser demolido ficou uma história lembrada por Armando Borges, dessas que só poderiam ser coisa de um “minhoca da terra”.

 

O Pálace Hotel, com restaurante anexo franqueado ao público, dotou Macaé de um dos mais modernos estabelecimentos do ramo no Estado do Rio de Janeiro.

Em 1945, Getúlio Vargas, de passagem para Campos, almoçou no Restaurante Pálace, tendo como seu convidado local, o saudoso fazendeiro Francisco Machado. Getúlio, também fazendeiro, fez questão de almoçar ao lado de um colega de Macaé, Chico Machado, como era conhecido, foi o escolhido.

Chico, era um homem respeitadíssimo e de conduta irrepreensível. Inculto, porém, sincero e leal com todos.

Em meio a conversa com Chico Machado, Getúlio perguntou-lhe: Chico, o que você acha do meu governo? Sem vacilar uma fração de segundo, Chico respondeu: ‘O caçador é bom. A cachorrada é que não presta’. Getúlio quase morreu de rir, acompanhado pelos guarda-costas que aparentemente não se consideraram incluídos.

Em 24 de agosto de 1954, certamente, Getúlio, antes de cometer suicídio, lembrou-se da frase de Chico Machado”. (BORGES, 1995: 98.)

 

A cidade tem muito mais perolas para serem desbravadas, tanto quanto poços de ouro negro para serem explorados. A última história desse artigo não foi escolhida por acaso, trata-se de uma história de suspense, o assassinato da memória cultural.

Construído em 1865 por mãos escravas, foi residência da família Ribeiro de Castro. A luxuosa residência hospedou inúmeras personalidades e recebeu visitantes ilustres. Dom Pedro II, Conde D’Eau, Princesa Isabel, entre outros. Projetado pelo arquiteto Antonio Bech por encomenda da Baronesa de Muriaé, para seu neto Manuel Ribeiro de Castro, que o inaugurou em Janeiro de 1866. O prédio era conhecido como “Palácio da Baronesa”, quando foi rebatizado pelo povo na década de 50, o novo nome surgiu quando sendo o local mais alto da redondeza os urubus pousavam na cúpula do palacete para devorar a carniça do Matadouro Municipal existente próximo ao local, pode ser chamado agora pelos íntimos de “Palácio dos Urubus”, ou pelos inimigos de “entulho prestes a cair em nossas cabeças”.

O crime começou quando o prédio foi vendido e depois tombado pelo Estado, conforme o processo de tombamento nº E-03/16.512/78, com Edital publicado no Diário Oficial do Estado de 21 de dezembro de 1978 e literalmente esta tombando na estrada que liga a Aroeira com o centro. Com ele tudo aos poucos vai desmoronado pela cidade. A memória da cidade aos poucos vai se desfazendo, com a morte dos moradores mais antigos, com os prédios que pouco a pouco vão sendo demolidos e com os registros históricos que ainda estão em velhos livros empoeirados. Não existe acervo digital, nem sequer o Hino de Macaé pode ser encontrado na Internet. A memória da cidade esta definhando inversamente proporcional ao seu crescimento, a espera de ser restaurada e de ser continuada com novas histórias e lendas.

Referências Bibliográficas

PARADA, Antonio Alvarez. Histórias da Velha Macaé. 1ªedição. Macaé, 1980.

BORGES, Armando. Histórias e Lendas de Macaé. 1ª edição. Campos dos Goytacazes: Lar Cristão, 1998.

Revista Eletrônica Minhoca da Terra #2
Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
Faculdade Salesiana Maria Auxilidora - FSMA / Macaé-RJ
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